sexta-feira, 4 de abril de 2008

Os segredos do peixe



Minha esposa acaba de preparar um salmão maravilhoso. Ela começou a cozinhar a algumas semanas e já está melhor do que muita gente por aí!
O segredo no preparo do peixe é saber o ponto certo de cozimento. O peixe é um dos únicos alimentos que a gente vê cozinhando por dentro. A carne quase translúcida do peixe vai ficando opaca quando cozinha. Este é o ponto certo de servir o peixe, quando a carne fica opaca. Se deixar passar mais, a carne pode ficar dura e seca.
O atum é um peixe que sempre deve ser servido mal passado. Se você pedir um suculento filé de atum num restaurante razoável, vão te servir um naco de peixe com uma bela crosta dourada e o interior inteiramente rosado, cru mesmo.
Um Chef de cozinha de um restaurante em São Paulo me contou que o cliente devolveu o prato porque não havia pedido o atum mal passado. O garçom ainda tentou explicar que o atum era sempre servido daquela maneira, mas o cliente, metido a sabidão, mandou que o garçom dissesse ao Chef para passar mais o peixe, pois não queria nenhum vestígio de peixe cru na sua mesa.
Contrariado, o Chef cozinhou mais o peixe e devolveu o prato ao cliente.
Ao final do jantar, o maitre perguntou se ele havia gostado do jantar. Disse que sim, mas que aquela cozinha estava longe de ser de alta categoria, pois primeiro serviram o peixe cru e depois serviram o peixe seco como o agreste.
O Chef desanimou. Sabia que o cliente iria sair por aí falando que o tal restaurante não era bom e tudo mais. Tentei consola-lo contando o caso de uma pessoa que pediu um Petit Gateau no meu restaurante e reclamou que estava cru por dentro...é rir pra não chorar!
Então estamos combinados, quando for servir um peixe, espere a carne ficar opaca e sirva, certo?
Mais uma coisa importante sobre peixe: o tempero. Nunca, jamais! Marine um peixe com algum elemento cítrico como suco de limão, maracujá ou vinagre por mais de 30 minutos. Mais do que isso acaba com a textura do bicho, tornando-a muito quebradiça e seca. Tem cozinheiro por aí detonado os peixes marinando-os por uma noite inteira!
Não tempere demais o peixe. Minha esposa temperou o salmão hoje com sal, azeite e pimenta do reino. Depois de assado rapidamente no forno bem quente, mais um fio de azeite e umas gotas de limão. Simples e perfeito.
Raspas de limão, ervas frescas como dill e salsinha e gengibre também combinam muito bem com pescados.
Experimente fazer uma gremolata. Pique um dente de alho, um punhado de salsinha e raspe a casca de um limão siciliano. Junte tudo, pique mais um pouco e salpique por cima de um peixe espada na chapa que foi temperado com sal e pimenta. Adicione um fio de azeite e aí você vai entender porque os italianos parecem que estão sempre felizes.
A receita de hoje é um prato típico do Peru, um país com umas das culinárias mais ricas do mundo e que eu adoro. Quando você for a Lima, vá ao simples Los Faroles del Duque, que fica na Plaza de Armas e peça qualquer prato típico com frutos do mar, a começar pelo ceviche, é claro.
Receita do Dia
Ceviche de pescado

Ingredientes para 4 pessoas
-300g de filé de peixe fresco
-suco de dois limões
-1 cebola roxa pequena
-1 pimenta dedo de moça
-um punhado de coentro
-batata doce e milho cozidos para acompanhar

Essa receita é rápida e muito simples de preparar. Utilize ingredientes de qualidade e capriche na apresentação, seus convidados vão achar que você é craque na cozinha.
Sirva como entrada num dia quente acompanhado de champagne.
Vá à peixaria de sua confiança e peça um peixe fresco para fazer ceviche. Meu amigo Issao, que trabalha no Mercadão, indicou outro dia uma corvina que ficou perfeita, mas qualquer peixe fresco pode virar um bom ceviche.
Corte o peixe em cubos pequenos, coloque numa tigela de vidro (não use inox) e despeje o suco dos limões. Misture bem e leve à geladeira por 30 minutos. O suco do limão vai alterar a textura e desenvolver mais sabor ao peixe cru. Enquanto isso fatie finamente a cebola roxa, a pimenta e o coentro.
Escorra o excesso de limão, adicione a cebola, a pimenta e coloque o peixe numa travessa ou em taças individuais. Salpique com o coentro e sirva com um pedaço de milho e batata doce cozidos e frios.

Pizza ou torta de queijo?



Adoro pizza. Na verdade, não conheço ninguém que não goste de pizza.
Minha família costuma fazer festas com pizzas, que assamos no forno a lenha do meu sogro. Preparo a massa com antecedência, e na hora de assar as pizzas deixamos vários ingredientes espalhados pelo balcão. Assim, fazemos pizzas de vários sabores, dos diferentes aos tradicionais. As preferências variam, um gosta de pizza com aliche, outra com presunto, a maioria com cogumelos, mas o consenso geral é não colocar cobertura demais nas pizzas.
Isso é um erro que todas as pizzarias cometem. O curioso é que eu tenho certeza que nenhuma das pizzarias tem culpa. A culpa é dos clientes, que preferem muita cobertura e, como diz um amigo meu que é dono de pizzaria, brasileiro quer sempre levar vantagem, tem que ganhar em tudo. Se a pizza tiver pouca cobertura porque fica mais gostosa, o cliente acha que está sendo enganado.
Mesmo assim, quando peço pizza, por exemplo de mussarela, falo pra colocar menos queijo e mais molho de tomate e ainda assim o pizzaiolo lota a minha pizza de mussarela. Na última vez que pedi, a única diferença foi um pouco de molho por cima da mussarela. Será que é difícil entender o que eu quero? Eu não quero uma torta de queijo, eu quero uma pizza!
A pizza ideal deve ser equilibrada, ou seja, massa e cobertura devem se combinar. Uma pizza com muita cobertura esconde o sabor e a textura da massa, que tradicionalmente deve ser redonda, com diâmetro máximo de 35cm e grossura de 3mm no meio e de 2cm na borda. Sua textura deve ser macia e elástica e crocante na parte de baixo. Assar em forno a lenha é importante, já que o sabor defumado faz muita diferença.
As pizzas italianas tem muito menos cobertura que a brasileira. O molho de tomate é mais saboroso e o queijo é adicionado de maneira disforme. Depois de derretido, pequenas ilhas de queijo derretido se formam entre o mar de molho de tomate. Assim como na foto que ilustra este artigo.
Por fim, esqueça as coberturas estranhas como milho, ervilha e batata palha. Outro dia me ofereceram uma pizza que tinha carne moída. Um negócio desse mata um italiano do coração!
Prefira ingredientes que os italianos costumam utilizar em suas cozinhas como queijos, cogumelos, alcachofras, brócolis, carnes curadas, aliche, frutos do mar, ovos, alho, enfim, pense como um italiano e sua pizza será um sucesso!

Receita do Dia

Pizza Marguerita (a verdadeira)
Já que não adianta pedir nas pizzarias, faça uma pizza italiana em sua casa.
Se não quiser preparar a própria massa, peça na pizzaria de sua preferência umas massas de pizzas assadas. Quando estou sem tempo eu faço isso, ligo para a pizzaria e peço para eles mandarem uma massa assada, mas sem recheio.

Ingredientes
1 massa de pizza
2 latas de tomate pelado
½ cebola
salsinha
orégano
azeite extra virgem
250g de mussarela ralada ou picada
folhas de manjericão

Enquanto você espera a massa chegar, faça um molho de tomate rápido mas saboroso. Frite a cebola picada finamente em um pouco de azeite até murchar. Abra as latas de tomate e separe o líquido dos tomates. Adicione o líquido à cebola e cozinhe até ficar espesso. Adicione os tomates, uma pitada de orégano seco e cozinhe rapidamente enquanto despedaça os tomates com a colher de pau. Desligue o fogo, junte um punhado de salsinha picada e tempere com sal e pimenta do reino.
Quando a massa chegar, esquente o forno em temperatura média para alta e comece a montar a pizza. Pegue a parte de cima da caixa da pizza e achate para formar um disco de papelão. Coloque a massa por cima do disco.
Espalhe azeite com uma colher no fundo da massa. Isso vai evitar que a massa encharque com o molho de tomate. Adicione o molho de tomate e espalhe com a colher. Não seja avarento com o molho de tomate! Faça pequenas ilhas com a mussarela e espalhe um pouco de azeite pelas bordas da massa que, pelo amor de Deus, espero que não estejam recheadas com cheddar!
Com a ajuda do disco de papelão, escorregue a massa diretamente na grelha do meio do seu forno. Isso vai fazer com que a pizza fique crocante.
Fique de olho, assim que o queijo derreter, retire a pizza do forno com a ajuda do disco de papelão, salpique com folhas frescas de manjericão e coma como um italiano: com a mão e com a fatia dobrada ao meio!
Obs: se preferir um sabor mais defumado na sua pizza, troque 50g da mussarela por 50g de provolone de boa qualidade. Sabe por que? Porque provolone é mussarela defumada!

Perigo! Inflamável!



O feijão carioquinha continua caro. Infelizmente uma série de fatores acabou contribuindo para uma das maiores altas do feijão dos últimos tempos. Assim, agora é tempo de conhecer as outras inúmeras espécies de feijão que existem no Brasil.
Primeiro, a pergunta que todos já se fizeram um dia: por quê o feijão carioquinha é consumido em São Paulo, enquanto que no Rio de Janeiro o feijão mais consumido é o preto?
O feijão carioquinha foi desenvolvido a partir de cruzamentos e mutações entre outros tipos de feijão (mulatinho, jalo e o marrom). O resultado foi um feijão com listras parecidas com as do calçadão de Copacabana. Por isso ele é chamado de carioquinha. Interessante, não?
O carioquinha corresponde a mais de 70% da produção brasileira, e apenas no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro o feijão preto é o predominante.
O sabor do feijão preto é muito parecido com o do carioquinha. Todos nós conhecemos por causa da feijoada, mas dificilmente utilizamos o preto para o nosso simples arroz com feijão. Sejamos mente aberta! O preço do feijão preto está quase metade do carioquinha!
Nos supermercados a variedade não é muito grande. Além do feijão carioquinha e do preto, o branco volta e meia aparece nas gôndolas. O sabor dos feijões brancos é mais suave e, por isso, muitas pessoas só servem este tipo de feijão com alguma outra coisa, como lingüiças, paio e buxo de boi. Nada mais delicioso. Porém, para consumir o feijão branco como acompanhamento, basta temperá-lo mais com cebola ou alho, lembrando que os seus grãos maiores pedem maior tempo de cozimento. Experimente preparar um purê de feijão branco. Sirva com um fio de azeite e salada.
Nas feiras e no Mercadão encontramos vários tipos de feijão: jalo, fradinho, de corda, rajado, bolinha. Uns com cascas mais grossas, outros mais macios, mas sempre bem vindos quando cozidos e temperados.
O feijão de soja já é um grande conhecido dos naturebas. Eles adoram preparar saladas de feijão de soja. Existe, porém, um problema em comer o feijão em saladas: gases.
O feijão já é um alimento indigesto porque possui grandes quantidades de carboidratos que as enzimas digestivas dos seres humanos não conseguem converter em açúcares que podem ser absorvidos. Esses carboidratos passam pelo intestino delgado e chagam ao grosso, onde as bactérias fazem o serviço delas e o resultado são os gases.
Para contornar a situação, muitas vezes embaraçadora, a solução é ferver o feijão, lavar os grãos com água corrente e cozinhar o feijão com água limpa. O problema é que grande parte dos nutrientes do feijão vão embora pelo ralo. Uma outra solução é cozinhar bastante o feijão. Não é o ideal, mas serve.
Mas por quê a salada de feijão é mais potente, considerando o nível de, digamos, periculosidade?
Porque as saladas de feijão normalmente utilizam grãos firmes de feijão, ao contrário do feijão em caldo, que é comido quase desmanchando. Assim, o feijão que não foi bem cozido possui bem mais carboidratos que não serão bem digeridos.
Entre comer ou não feijão, a escolha é somente sua, mas lembre que as pessoas ao seu redor vão sofrer as conseqüências!
No meu restaurante, o Coronel, servimos tacos mexicanos nos finais de semana. Um dos acompanhamentos da tortilla crocante são os frijoles refritos, que são feijões pretos cozidos e bem temperados. Além de acompanhar tacos, os frijoles refritos servem de acompanhamento para carnes ou até mesmo o nosso arroz brasileiro. Para ficar mais fácil da pessoa se servir, faço purê dos frijoles refritos no Coronel, mas se preferir utilize-os inteiros ou com os grãos em pedaços grandes.

Frijoles Refritos

250g de feijão preto bem cozido
1 cebola
2 dentes de alho
100g de gordura de bacon
sal
pimenta vermelha (opcional)

Cozinhe bem os feijões pretos, até quase desmancharem. Pique a cebola e o alho bem fino e frite na gordura do bacon ou banha de porco.
Quando a cebola ficar transparente, adicione os feijões inteiros ou em purê e mecha bem. Se ficar muito seco, adicione o caldo do cozimento aos poucos.
Tempere com sal e, se preferir, pimenta vermelha em pó.
Se for servir acompanhado de alguma carne, como um picadinho, salpique com cebolinha e sirva com uma colher de iogurte natural.

Páscoa=Bacalhau, e daí?



Outro dia eu estava navegando na internet e vi uma manchete mais ou menos assim: “Aprenda a fazer robalo com não sei o quê para sair da mesmice do bacalhau na Páscoa”.
Achei simplesmente um absurdo. Já imaginou um Natal sem um pernil, leitoa ou chester na mesa? Festa do Divino sem afogado? Festa Junina sem vinho quente?
Qual o problema da mesmice? Se preparar comidas típicas em datas festivas é mesmice, eu adoro a mesmice!
“Ah, mas enjoa comer bacalhau toda Páscoa”. Como enjoa? A Páscoa acontece só uma vez por ano!
A tradição de comer bacalhau na Páscoa começou na Idade Média. A Igreja Católica mantinha um rigoroso calendário de dias em que os fiéis deveriam fazer jejum. Assim, nos dias determinados os portugueses não podiam comer carne vermelha, mas eram liberados para comer a comida simples, popular e barata da época: o bacalhau.
Atualmente, come-se bacalhau no domingo de Páscoa, mas muitas famílias ainda preparam o bacalhau na Sexta-feira Santa, dia reservado ao jejum.
O problema é que a Sexta-feira Santa é o dia mais triste para os católicos (dia em que Jesus morreu) e esse é o motivo do jejum. Antigamente os portugueses comiam bacalhau nos dias sagrados porque era uma comida simples. Se pudessem, comeriam carne vermelha.
Hoje, bacalhau é um prato caro, considerado uma iguaria e consumido poucas vezes no ano. Assim, um prato tão especial e gostoso não deveria ser preparado no dia mais triste do ano no lugar da carne vermelha, essa sim corriqueira nos dias de hoje.
Então vamos lá, após ler este artigo, pegue o bacalhau que você já comprou e comece a prepara-lo para domingo.
Corte o bacalhau no tamanho dos pedaços que irá servir. Você terá pedaços do lombo e da barriga. O lombo, que é a parte mais grossa, deve ficar de molho por mais tempo que a barriga. Remova os espinhos aparentes, reserve a barriga e lave bem o lombo.
Coloque os pedaços de lombo numa bacia com bastante água e leve à geladeira. Muita gente dessalga o bacalhau em temperatura ambiente. Isso é um grande risco já que o bacalhau vai hidratar e voltar a ser “fresco”. E peixe fresco fora da geladeira não é nada bom.
Troque a água umas quatro vezes ao dia. No sábado, dessalgue os pedaços de barriga (separados do lombo) da mesma maneira. Troque a água das duas bacias por mais quatro vezes.
Na noite de sábado, verifique com um garfo se o bacalhau está macio. Se estiver, corte um pedaço do lombo ao meio e retire uma fatia para experimentar.
Frite rapidamente a fatia no azeite e experimente. Se o sal estiver no ponto certo, escorra a água do bacalhau e reserve na geladeira até o domingo. Se ainda estiver salgado, deixe de molho de sábado para domingo.
Mesmo com esses conselhos, não existe um tempo exato para dessalgar o bacalhau. Um produtor pode salgar mais o seu produto que outro, os peixes não são todos iguais e o gosto pessoal influi muito no final.
O seu bacalhau estará praticamente pronto para ser preparado.
No dia, coloque os pedaços de bacalhau numa panela e cubra com leite. Não vá por leite desnatado! Quando ferver, desligue e escorra.
Minha sogra descobriu um negócio interessante. Ferva o bacalhau com a pele, pois a região entre a pele e a carne é rica em colágeno. Assim, o bacalhau ficará muito mais saboroso. Se preferir, remova a pele depois de ferver, mas eu gosto da pele.
Pronto, agora é só preparar o bacalhau conforme sua preferência. Lembre-se que peixe não precisa ficar muito tempo no fogo. Quando perceber que o interior está quente, pode servir que está pronto.
Toda família tem a sua receita de bacalhau. Por isso, a receita de hoje pode ser preparada com as sobras do bacalhau cozido ou assado. Além disso, só para variar a receita é italiana e não portuguesa.

Zuppa di baccalà
500g de bacalhau em lascas
2 talos de salsão
1 cenoura
1 cebola
3 dentes de alho
1 limão
1 maço de salsa
1 pimenta dedo de moça
azeite extra virgem
2 latas de tomate pelado
500mL de caldo de galinha
sal e pimenta

Corte a cebola, o talo do salsão e a cenoura em pedaços de 1cm de lado aproximadamente. Pique os talos da salsinha e a pimenta, descartando as sementes. Aqueça um fio de azeite e refogue os vegetais junto com a pimenta e os talos da salsinha.
Refogue em fogo fraco até que os vegetais fiquem macios, mas sem corar.
Acrescente as latas de tomate pelado e cozinhe por mais 5 minutos.
Adicione o caldo de galinha, espere ferver e junte as lascas do bacalhau. Cozinhe por mais 5 minutos, adicione a salsa picada, pimenta do reino e o suco do limão. Salpique com as folhas verde-claras do salsão e sirva com pão e azeite de oliva extra virgem.
Ah, um pouco de amêndoas torradas por cima é delicioso.

Azeite



Esta semana eu estava conversando com um amigo sobre qual seria a melhor refeição das nossas vidas. Ele me disse que uma das melhores foi aconteceu num dia em que ele estava na Itália, morrendo de fome. Era o tipo da viagem em que o dinheiro é meio curto e uma refeição tem que valer por duas.
Chegando no restaurante, ele e a esposa fizeram o pedido e, enquanto esperavam, receberam como antepasto vários pãezinhos sortidos, pimenta do reino e uma garrafa de azeite. Foi essa uma das suas melhores refeições: pão com azeite. Esbaldaram-se tanto com os pães com azeite que não agüentaram comer o prato principal.
É claro que a fome influencia, e muito, quando pensamos nas melhores refeições das nossas vidas, mas a simplicidade de um pão fresco e um azeite de ótima qualidade pode ser imbatível.
Lembrei que a melhor bruscheta que comi na vida foi também na Itália e, das opções do cardápio era a mais modesta (e a mais barata!): uma fatia de pão italiano grelhado esfregado com alho e coberto de azeite. Muito simples certo?
Mas a quantidade de azeite fazia a diferença. Era deliciosamente coberta com muito azeite extra virgem e só. Enquanto comia, pensei que poderia facilmente preparar uma bruscheta dessa, mas nunca derramaria muito azeite antes de experimentar uma com tanto.
O azeite é um alimento que vem da Era Terciária, feito a partir do sumo da azeitona. São necessárias cerca de 4mil azeitonas para conseguir 500mL de azeite.
Existem várias classificações de azeite: extra virgem, virgem, refinado e o comum, que é impróprio para o consumo.
Para saladas e molhos frios, prefira os extra virgem e virgem. O sabor e o aroma do azeite é muito mais intenso no seu estado cru. Já se for fazer uma fritura, prefira o refinado, que é mais barato que os outros. Seria um desperdício fritar com azeite extra virgem. Além disso, o azeite cru possui uma grande quantidade de gordura monoinsaturada, que não se transforma no colesterol “ruim”. Já se for usado para frituras a gordura satura e as boas propriedades do azeite vão por água abaixo.
Por isso, use e abuse do azeite cru para incrementar pratos e dar um toque pessoal à comida.
Uma dica muito boa é aromatizar o azeite, por exemplo, com ervas frescas. Pique bem as ervas, seque em papel toalha e adicione ao azeite. Esquente levemente o azeite até ficar morno, quase quente e espere esfriar. Coe e você terá um azeite com sabor de ervas e uma coloração linda. Use este azeite para temperar saladas ou pratos com frango.
Não dá pra escrever sobre azeite sem mencionar Portugal. Ele foi um dos primeiros produtos a ser exportado por aquele país. As comidas típicas portuguesas sempre levam uma boa quantidade de azeite e, quando misturado com alho, como em algumas receitas com bacalhau, fica magnífico. Lembre-se de que o azeite cru tem mais sabor do que o cozido. Assim, quando for preparar o bacalhau da Páscoa, reserve uma boa quantidade de azeite para regar o bacalhau quando ele já estiver pronto.
Um bom pedaço de bacalhau com azeite e um pedaço de pão poderia ser meu almoço de todos os dias!
Mais uma coisa legal de preparar com azeite: cebola confit. Descasque cebolas pérolas, coloque-as em uma panela e cubra com azeite. Asse no forno fraco com a porta semi aberta por uns 40 minutos, ou até as cebolas amaciarem. Fica ótimo como acompanhamento de carnes e o azeite pode ser coado e utilizado normalmente como tempero, só que aromatizado com cebolas.
A receita de hoje é uma versão mais complicada da bruscheta simples com azeite que comi na Itália. Fica ótima como entrada ou como um lanche da tarde.
Como adoro este antepasto italiano, vivo inventando novas coberturas. Assim, se você inventar uma interessante, mande-me por email que eu vou ser o primeiro a experimentar!

Bruscheta de figo, espinafre e presunto cru

Ingredientes
2 fatias de pão italiano
2 fatias de presunto cru
1 dente de alho
½ maço de espinafre
1 figo maduro

Limpe e escalde o espinafre. Mergulhe-o em água fervendo por uns 10 segundos, retire e mergulhe em água gelada. Quando esfriar, seque o espinafre e reserve.
Corte o pão italiano na espessura de 1 dedo. Grelhe as fatias de pão numa frigideira sulcada ou diretamente na grelha do forno pré-aquecido na temperatura mais alta. Não deixe o pão virar torrada, apenas doure a superfície mas mantenha o interior macio.
Esfregue o dente de alho levemente nas fatias de pão, coloque uma porção do espinafre, uma fatia bem fina de presunto cru e uma fatia do figo sem casca.
Tempere com um pouco de sal, pimenta do reino e regue com bastante azeite extra virgem.


Conselho de amigo – Parte 2



A Parte 1 foi publicada na coluna da semana passada. Se você perdeu, leia no meu blog: diariodeumcozinheiro.blogspot.com.
Continuando o artigo, quando o restaurante abre as portas, é que a coisa pega fogo na cozinha.
Nessas horas a temperatura da cozinha já está entre 35ºC e 40ºC. É lógico que os cozinheiros estão uniformizados, de calça, jaleco de manga comprida por cima da camiseta e touca, passando um calor infernal e em pé há várias horas.
Agora chegou a hora dos pedidos. Quando o garçom entrega um pedido na cozinha todos os cozinheiros devem entrar em harmonia. Enquanto o cozinheiro prepara um filé ao ponto na grelha, outro prepara as entradas, um terceiro prepara os acompanhamentos...ops, mais um pedido entrou! O terceiro vai ter que adiar a preparação dos acompanhamentos, ajudar com as entradas do novo pedido, esperar o primeiro cozinheiro avisar quando ele pode começar a preparar os acompanhamentos do primeiro pedido, já que o prato depende da demora do filé, que deve estar ao ponto, e no momento certo preparar os acompanhamentos para todos os elementos do prato saírem na hora certa, e enquanto isso mais dois pedidos podem entrar, um com um peixe no lugar do filé, outro com frango com o molho da carne no lugar do peixe e por aí vai. Parece confuso? Aí está o segredo da cozinha: a harmonia entre os cozinheiros e um chef para comandar tudo isso. Um não vai com a cara do outro? A cozinheira está com TPM? A outra brigou com o marido? Não importa. Nestas horas o que vale é concentração total, comunicação, tolerância e profissionalismo. O bom cozinheiro sabe disso. O bom chef sabe disso.
Por isso, se você acha que quer fazer gastronomia, peça para estagiar numa cozinha antes, e durante algum tempo você vai poder observar e eventualmente trabalhar e sentir a pressão de um restaurante. Se gostar, vá em frente. Se achar cansativo, ou se não gosta de voltar pra casa cheirando a gordura, exausto e sabendo que no dia seguinte a correria será a mesma, desista e vá fazer outra coisa.
Por que eu estou neste meio?
Porque eu adoro! Gosto da pressão, gosto da correria, gosto de ser rápido e principalmente do retorno positivo dos clientes. Tem louco pra tudo, não é?!

Receita do Dia

Pasta al limone da madrugada

Quando volto tarde do restaurante, muitas vezes estou faminto. Com a cozinha fechada para limpeza, acabo indo para casa preparar algo pra mim.
Já tentei comer aquelas coisas instantâneas, mas achei muito ruim e artificial. Consigo fazer uma massa fresca em poucos minutos.

Ingredientes
-1 xícara de farinha de trigo
-2 ovos
-1 pitada de sal
-1 limão
-azeite extra virgem
-parmesão ralado

Coloque uma boa quantidade de água para ferver. Enquanto isso, coloque a farinha numa tigela. Despeje os ovos por cima, o sal e mexa tudo com um garfo até conseguir uma farofa grossa. Junte tudo com as mãos e amasse até conseguir uma bola macia.
Abra com um rolo o mais fino possível, no formato que você conseguir. Salpique farinha por cima, enrole a massa como se fosse um rocambole e corte tiras de talharim com uma faca afiada.
Quando a água ferver, adicione o sal, espere ferver novamente e cozinhe a massa por alguns minutos. Experimente a massa a cada minuto, mas o cozimento não deve passar de quatro minutos.
Enquanto isso, esquente uma frigideira, adicione azeite, escorra a pasta e despeje na frigideira. Mexa bem, rale meia casca do limão por sobre a pasta e despeje o suco de meio limão.
Salpique com parmesão e coma antes de dormir!
Obs: Eu sempre tenho parmesão ralado no freezer. Não estraga e é muito prático. Tiro o quanto eu quero e volto o resto no freezer.
Obs: Qualquer tipo de erva vai bem com esse prato. Manjericão, orégano ou até mesmo salsinha dão um sabor especial à massa.